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A Última Homilia de Sexta-feira Santa de Fulton Sheen: Espectadores Ao Pé da Cruz

Escrito por Carol Lynn Miller | 19 de abril de 2019

Fonte: https://www.magiscenter.com/blog/fulton-sheens-last-good-friday-homily-spectators-on-and-about-the-cross?hs_amp=true

Em 1979, uma grande multidão se reuniu na Igreja de Santa Inês, em Nova York, para ouvir a sabedoria de Dom Fulton Sheen, naquela que seria a última homilia de Sexta-feira Santa que ele proferiu.

O tema escolhido por Dom Sheen foi: “Espectadores ao Pé da Cruz”. Ele dividiu os espectadores em três grupos:

1. Os espectadores indiferentes ou afastados da fé

2. Os espectadores da dor

3. Os espectadores do amor

E como isso se aplica a nós?

Em um momento de sua homilia, Dom Sheen declarou:

“Somos espectadores neste dia. Todos nós, em diferentes graus, somos espectadores.”

Nesta Sexta-feira Santa, ao revivermos a Paixão e Morte de Nosso Senhor, unimo-nos àquela multidão de espectadores.

Os Espectadores Indiferentes ou Afastados

São representados pelos quatro soldados que, sob a cruz, apenas observam. Eles não contemplam com reverência, mas foram encarregados de vigiar o corpo de Cristo, pois haviam sido avisados de que Ele poderia ressuscitar. Enquanto mantêm vigília, lançam sortes sobre Sua túnica.

A esses afastados da fé, Dom Sheen diz que, embora não creiam, ainda observam e pensam:

“Talvez Ele ressuscite. É melhor ficarmos por aqui.”

E completa:

“Vocês jogam dados, buscam pequenos prazeres aqui e ali, tentando esquecer que abandonaram a fé. Mas, ao mesmo tempo, a graça de Deus vos inquieta e vos perturba.”

Apesar do afastamento de Deus, Dom Sheen termina com uma mensagem de esperança:

Se os indiferentes e afastados simplesmente se deixarem conduzir ao confessionário, Deus os acolherá com misericórdia infinita.

Os Espectadores da Dor

Representados pelos dois ladrões crucificados, um à direita e outro à esquerda de Cristo. Eles simbolizam todos nós que sofremos com dores, angústias, preocupações mentais, tribulações e tristezas.

Dom Sheen expressa com beleza:

“É justo, portanto, que o Bom Senhor, ao olhar para a dor, nos deixasse uma lição.”

E qual lição nos deixou o Senhor?

Por meio do bom ladrão — aquele que se arrepende e diz:

“Senhor, lembra-Te de mim quando entrares no Teu Reino” — aprendemos que Deus nunca nos permite carregar um fardo maior do que podemos suportar.

Citando C.S. Lewis, que Dom Sheen também menciona:

“Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores: a dor é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo.”

Dom Sheen explica que os efeitos da dor são o oposto dos de uma pedra lançada na água: ao invés de se expandirem para fora, os círculos da dor recolhem-se para dentro, até que reste apenas a alma diante de Deus.

A dor, assim, pode ser um instrumento de união com o Senhor.

O bom ladrão compreendeu isso e nos mostra que a dor pode transformar-se em janela para a verdade de que nossa morada definitiva não está neste mundo marcado pelo sofrimento, mas no Reino que Cristo chama de Paraíso.

Os Espectadores do Amor

São representados por duas mulheres ao pé da cruz: Maria Santíssima, nossa Mãe, e Maria Madalena.

Essas duas mulheres encarnam dois tipos de amor:

• O amor de necessidade, que nasce de nossa imperfeição e carência

• O amor de doação, que nada deseja para si, mas tudo oferece

Dom Sheen explica que o amor de necessidade nasce de nossa condição limitada. Como criaturas, necessitamos de muitas coisas:

“Precisamos de alimento para o corpo, pensamento para a mente, música para os ouvidos, amigos para o coração. Tudo isso supre uma carência.”

Esse amor está relacionado ao amor erótico, entendido por Freud não como amor pela pessoa, mas desejo do prazer que ela proporciona.

Por outro lado, o amor de doação nada quer, nada exige. Apenas se entrega, se rende, se sacrifica.

Antes de sua conversão, Maria Madalena representava o amor de necessidade. Após seu encontro verdadeiro com Cristo, seu amor transforma-se em amor de doação — o mesmo amor de Nossa Senhora.

Ela já não buscava algo para si, mas desejava doar-se inteiramente ao Senhor.

E Nós? Também Somos Espectadores?

Como Dom Sheen afirmou:

“Somos espectadores neste dia. Todos nós, em diferentes graus, somos espectadores.”

A cada Sexta-feira Santa temos a oportunidade de nos unir aos que estavam ao pé da cruz há dois mil anos. Podemos reconhecer em nós traços de cada um desses grupos:

• Os indiferentes nos lembram que ninguém está fora do alcance da misericórdia divina.

• Os que sofrem nos mostram que Deus nos fala por meio da dor.

• Os que amam nos ensinam que o verdadeiro amor é aquele que se doa por inteiro.

Agradecemos a Dom Fulton Sheen por estas palavras de sabedoria neste tempo santo da Paixão do Senhor.

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